Pediram-me que escrevesse alguma coisa sobre o nosso maior poeta. Afinal, o 31 de outubro aí está. Eventos de grande significação estão acontecendo, como palestras sobre sua obra, a exposição Boitempo (imperdível!) no Museu de Itabira e a entrega dos prêmios aos vencedores do I Concurso de Poesia Carlos Drummond de Andrade, promovido pela Fundação Cultural.
Pois bem, falar sobre o nosso poeta é assunto de grande responsabilidade que apresenta vertentes várias. Fico em dúvida, qual vereda tomar…
Renitentemente o famigerado verso da fotografia na parede vem à tona e insiste para que seja considerado.
Mas quero falar mesmo é do último verso que o completa e do qual ninguém fala. “Mas como dói!”. Termina assim o poema Confidência do Itabirano.
O poeta está longe da cidade natal, mas na sua parede está a foto de Itabira e ele sofre com o distanciamento, pois como mesmo disse “por força das circunstâncias, e não de suas tendências naturais, vive longe do meio natal.”
A cidade está no poeta, está na sua alma, no seu coração, no seu sangue.
(…) “Não é preciso rever Itabira para estar em Itabira. Nela estou desde que nasci. É meu clima, limite e medula.”, declara Drummond em uma crônica de 1972.
Dirigindo-se à comunidade itabirana neste mesmo ano, pela ocasião dos seus 70 anos, ele reafirma:
“Devo dizer que nunca deixei de ter Itabira em minhas lembranças, sempre ela me acompanhou e me acompanha, mesmo porque não seria fácil, não seria possível desligar-me de uma cidade, de uma terra que deixa uma marca tão profunda naqueles que ali nasceram.”
Em 1977, em uma carta aos professores, ele repete:
“Sou eu que devo declarar tudo quanto devo à Itabira pela impregnação que sinto em mim, da carga do seu passado histórico, da sua paisagem cultural e física, do seu espírito, enfim. Com base nessas raízes, e à luz da sensibilidade itabirana é que tem transcorrido minha vida, meu trabalho.”
E para por uma pá de cal nesta velha e ultrapassada questão entre a cidade e seu poeta, em 1986, um ano e pouco antes de sua morte, ele escrevia no Cometa Itabirano, agradecendo os presentes enviados pela municipalidade. Com emoção, Drummond disse:
“Obrigado Itabira, mãe e amiga fiel. Beijo comovido tua fotografia na parede.”
Este é o nosso poeta, poeta de Itabira e do mundo. Munditabirano.
Obrigado, poeta, conterrâneo e amigo fiel. Você, como o José, não morrerá nunca!
Crônica de 27/10/1995